maio 10, 2021

30 letters: maybe in another life

11. Um falecido que você queria muito poder conversar com

Para meus falecidos avós, 

Família sempre foi um conceito um pouco complicado pra mim, eu, a caçula, por algum motivo não tive tanto contato com uma certa parte da família quanto meus irmãos mais velhos, enquanto eles conhecem tios e tias dos quais eu não sequer sabia o nome e são realmente próximos deles, eu nunca mais vi meu padrinho depois do meu batizado e nem lembro bem o nome dele (Ricardo, eu acho.)

Pra mim, minha família sempre foi eu, meus irmãos e meus pais. Pouco me importava os outros, até porque eu nunca os via, pra que realmente considerar família quando tudo que nos une é o sangue? Mas, tenho que ser sincera, sempre tive muita inveja dos meus amigos com seus avôs e avós. As avós que sempre faziam comida demais, os avôs trazendo doces e buscando os netos na escola... Eu não tive isso e minha única avó viva também não foi muito próxima de mim, não que eu sinta falta de verdade, até porque não dá pra sentir falta de algo que eu nunca tive, mas eu queria ter tido essa experiência, eu queria ter tido o que meus sobrinhos tem hoje com meus pais, sabem? Aquele amor inexplicável que as crianças sentem pelos avôs só de verem eles, queria sentir esse carinho também.

Vô Seloé, o senhor podia ter ficado aqui em São Paulo, né? Não necessariamente voltando pra avó Helena, mas ficado aqui por perto, talvez as coisas teriam sido diferentes... talvez o senhor ainda estivesse vivo. Meu pai sente sua falta e sempre diz o quão grande foi o buraco por você não estar presente e eu queria muito ter te conhecido, apenas ouço histórias e... elas não são lá muito boas, você era alguém um tanto... bagunçado, mas, ainda sim, eu queria saber como as coisas seriam com você por aqui.

Vô e Vó Lupette, infelizmente nem eu ou meus irmãos carregamos esse nome (longa história, planejo um dia conseguir acrescentar ele no meu), mas sempre ouvimos histórias sobre vocês. Minha mãe também não teve muito tempo, vocês se foram muito cedo da vida dela e ainda mais cedo da vida do meu tio, mas, penso que se vocês eram tão amáveis quanto minha mãe é hoje, acho que eu teria muito carinho por vocês.

Eu só consigo imaginar o que teria sido, talvez, com vocês, eu tivesse mais apego com o resto da família, talvez minha mãe não tivesse passado por tudo que passou tão cedo, ou meu pai tivesse crescido de uma forma diferente, menos traumatizada. Assim como, talvez, se tudo isso fosse diferente, eu não estaria aqui. É engraçado pensar no efeito dominó que as coisas acontecem, porque provavelmente minha mãe nunca teria conhecido meu pai se vocês estivessem vivos, porque com certeza ela ainda estaria no interior e meu pai aqui no centro ou até mesmo lá pro nordeste, que é de o pai dele veio, talvez eles nunca se encontrassem e nem eu ou meus irmãos existiriam.

Mas, mesmo com essas possibilidades, nossa, como eu queria ter conhecido vocês.

Da sua neta,

Giovanna

3 comentários:

  1. Eu sempre tive meus avós por perto. Maternos e paternos. Mesmo a distância não me afastou deles e por mais que eu tenha mais contado com o lado do meu pai não nego o quão grande é a influência que tenho dos meus avós, mas acho que isso se deve a eles gostarem muito da família, de terem seus filhos ao alcance. Mesmo não sendo tudo perfeito, todas essas pequenas coisas as quais não teve a vivência Neko, eu posso dizer que tive e você me fez pensar em como seria não ter...

    Ler a sua carta me lembrou do quão diferente as famílias podem ser e do quão ramificadas elas são, principalmente quando há desentendimentos entre pais e filhos - até mesmo me lembrei que não pude ter conversas maduras com o meu avô, que acabou falecendo mas sabe, anos mais tarde acabei encontrando dois senhores que acabaram por preencher essa pequena lacuna (um sendo o zelador do meu antigo colégio e o outro o dono de um sebo que frequento muito), talvez em algum momento você encontre pessoas com quem possa sentir esse sentimento, mesmo isso não tendo sido algo que lhe acompanhou da infância :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É estranho pensar em como seria não ter algo que a gente já está tão acostumada, né? Hahaha fico feliz que você tenha tido essa parte da família Snow, espero que aproveite bem ela.

      Realmente, cada família é diferente... eu ainda tenho um pouco de sorte de ter muita gente próxima, tem gente que nem isso tem por conta dos tais desentendimentos.
      Nossa, eu espero que um dia eu encontre alguém assim... ficaria realmente feliz com isso.

      Excluir
  2. realmente, há parentes que deixam um espacinho vazio. eu tive contato com meus avós, eles me criaram por uns anos e eu os chamo de pai e mãe. infelizmente perdi meu pai (avô) muito cedo, aos 12 e até hoje me faz uma falta imensa. ele me buscava na escola, me mimava... assim como minha mãe faz (avó). queria ter vivido mais com meu pai biologico, acho que seria interessante. ele ainda é vivo mas realmente são questões que não consigo manter por muito tempo, digo, relações.

    eu tenho certeza que voce seria bem feliz com seus avós, e eles ficariam bem felizes de passarem um tempo com você. é curioso como sempre fica um vazio, né? mesmo que tenhamos consciência de que é assim que a vida funciona e que ela é apenas um ciclo.

    realmente, a gente acaba pensando em várias teorias, ne? será se seus pais nao iriam se conhecer caso eles estivessem vivos? será que voce existiria? será se a vida seria como é/ nao sabemos. mas é interessante pensar sobre.

    ResponderExcluir